Criança vítima de enchente em Rondônia é adotada por família de São Paulo

Elizabete viveu uma tragédia. Ainda bebê, caiu da cama nas águas da grande enchente de 2014, em Porto Velho. Teve lesões na cabeça pela queda e pela perda de oxigênio em decorrência do afogamento. Ficou meses no hospital. Os médicos lutaram muito, mas tinham consciência de que o quadro era muito grave, de difícil recuperação.

Mas como a história da menina, que nasceu em Humaitá e filha de mãe dependente química, é permeada pelo improvável, Elisabete sobreviveu.

As sequelas do acidente foram determinantes para os próximos capítulos de sua história.

Sem condições econômicas e, principalmente, psicológicas de cuidar da filha, os pais abriram mão e a Justiça finalmente decretou a perda do poder familiar, não sem antes tentar mantê-la no seio da família. Quando isso acontece a criança deve ir para uma unidade acolhedora (abrigo) até que seja adotada.

Elisabete enfrenta, a partir de então, novos percalços. O primeiro deles é o próprio abrigo, não preparado para suas necessidades especiais. Um bebê que se alimenta por sonda, com dificuldades locomotoras, inspira todo um cuidado que o Lar do Bebê, por mais que tivesse profissionais dedicados e amorosos, não conseguia suprir.

Outro grande obstáculo era o perfil para adoção. Com todas essas dificuldades, apesar de ser uma criança na faixa etária preferida pelos pretendentes a pais adotivos, Elisabete tinha característica que, na realidade dos abrigos, é fator desencorajador para muitos.

Felizmente, a menina sorridente e amorosa mostra que sua história será mesmo de superação. O sistema de proteção à criança conseguiu uma vaga para Elisabete na Casa Família Roseta, especializada em crianças com necessidades especiais. É nesse local acolhedor, com profissionais e voluntários abnegados, que ela encontra um ambiente propício para seu surpreendente desenvolvimento nesses seus 4 curtos anos de vida.

E no início deste ano, o improvável mais uma vez vem mostrar a todos que é tônica da vidinha de Elizabete. Após uma campanha feita pelo Juizado da Infância e da Juventude de Porto Velho, uma família de São Paulo se interessou em adotar Elisa, como é mais conhecida por todos.


A família se habilitou, fez curso de preparação, passou por todas as etapas exigidas no processo de adoção e, nesta semana, veio buscar a filha. Momento de grande emoção para todos os envolvidos.

Despedida
A despedida, na última quinta-feira, na Casa Família Roseta, foi uma grande celebração ao amor e à solidariedade. Débora e Renato, seus novos pais, e o irmãozinho Pedro Gabriel foram recebidos com festa por cuidadores, voluntários, profissionais das instituições e do sistema de Justiça. A juíza Sandra Merenda e o promotor Marcos Tessila, acostumados a histórias dramáticas no cotidiano de trabalho, não contiveram a emoção de ver o encontro de Elisa com sua nova família.

“Trata-se de um exemplo exitoso de adoção, no qual o acompanhamento da Justiça garante à criança o direito à convivência familiar e aos pais a segurança para o desenvolvimento integral aos seus filhos”, defendeu a juíza.

O esforço do 2º Juizado da Infância e da Juventude de Porto Velho tem sido no sentido de quebrar os tabus da adoção, incentivando a adoção de crianças maiores, adolescentes ou com necessidades especiais, e tem obtido ótimos resultados com essas ações estratégicas, como no caso de Elisabete.

Poemas, canções, orações e depoimentos derramados marcaram esse momento, que representa um novo futuro para Elisa.

“Estamos muito felizes pelo carinho e afeto de todos. É muito bom saber que nossa filha teve todo esse amor de vocês. Podem ter certeza que, além do nosso amor, terá todo o esforço e empenho para se desenvolver muito mais”, disse o pai de Elisa. Renato contou que sua família e igreja estão em oração pela filha. Débora, a mãe, também emocionada, agradeceu pela ajuda e prometeu manter a todos informados sobre Elisa, afinal, “apesar da distância, os laços afetivos não podem ser rompidos”.

Os olhos espertos da menina, sua alegria e empolgação ao brincar com o irmãozinho, sua evidente satisfação em encontrar uma família, demostram que o improvável não é, definitivamente, um adjetivo no futuro de Elisa.
 



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