Porto Velho se tornou nesta quarta-feira (1º), por quase um dia, solo real. Pela primeira vez, a cidade recebeu um membro da família real brasileira: dom Antônio de Orléans e Bragança, bisneto da Princesa Isabel e o terceiro na linha de sucessão ao trono, em caso de restauração do regime monárquico no país.
Resguardados de uma tarde quente de 34ºC, vossa alteza e os súditos, que em Rondônia possui cerca de 200 membros, segundo a Organização Imperial Brasileira em Rondônia (OIB/RO), deram continuidade a programação que incluiu uma visita a pontos turísticos da capital, almoço com lideranças do movimento no estado e um ciclo de palestras sobre a questão monárquica.
Poucos súditos compareceram ao salão de eventos em um Hotel na região central da cidade. Discretos e atenciosos, dom Antônio de Orléans e a esposa, a princesa consorte Christina de Ligne de Orléans e Bragança, nascida na Bélgica, sentaram na primeira fileira do salão, alheios ao vazio das cadeiras atrás deles, exemplificando o número de apoiadores que possuem no estado.
Um desses poucos membros que acredita na restauração da monarquia como forma de salvar o Brasil é líder da OIB/RO, Fernandes Lucas da Costa.
Casal real canta Hino Nacional na Organização Imperial Brasileira em Rondônia (OIB/RO). (Foto: Pedro Bentes/G1)
“As pessoas que estudaram a verdadeira história do Brasil têm uma tendência à ideia monarquista. No estado, o movimento é recente, há mais ou menos dois anos. Mas, no Brasil, é um movimento bem antigo. As pessoas precisam estudar a verdadeira história, não a que os livros ensinam, pois a História coloca o que a interessa, para manter a atual forma de governo”, acredita o líder do movimento no estado.
Para Fernandes, não trata-se de restaurar o antigo regime, mas da “correção de um erro”.
“A República já provou que não funciona. Não funcionou na maioria dos países. O governo monárquico é voltado para o povo, já o governo republicano é para uma pequena massa. O monarca tem o poder de decisão. O presidente não tem autonomia para decidir. Tudo que ele faz deve ter o apoio do Congresso Nacional. O poder de decisão e a sabedoria de dom Luís conduziria o Brasil muito bem”, disse Fernandes.
O homem a quem Fernandes credita esperança, dom Luís, é o primeiro na linha de sucessão ao trono em uma eventual restauração da monarquia. Dom Antônio, o irmão, fala da época monárquica brasileira como se estivesse vivido nela.
“Na época da monarquia, o Brasil era um país de primeiro mundo. A inflação média era de 1.67%. Hoje, há uma briga entre os três poderes [Executivo, Legislativo e Judiciário]. Porém, entendemos que seria trabalhoso o processo de restauração”, observa Dom Antônio.
Para o chanceler do círculo monarquista em Montes Claros (MG), Ezequiel Novais, a monarquia é um regime coerente.
“Na monarquia, você gasta somente com o rei. Na república, o gasto é com todos os ex-presidentes, pois a corte na república é maior do que na monarquia. As grandes funções do monarca dizem respeito à funções que têm que existir, independente do momento histórico do país”, explica o chanceler.
Lei polêmica
A visita do príncipe já era aguardada pelos súditos, mesmo após sofrerem uma derrota quando um projeto de lei estadual. O documento, que previa a obrigatoriedade do hasteamento da bandeira imperial em escolas de Rondônia, foi revogado.
A Lei Nº 4.225/2017, aprovada pela Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO), exigiria, ainda, que o Hino de Independência fosse tocado diariamente nas escolas do estado.
À época, o autor da proposta, o deputado estadual José Eurípedes Clemente (MDB), afirmou que a lei tinha como objetivo contribuir para o “civismo dos alunos” em comemoração ao bicentenário do Brasil, comemorado em 2022.
No entanto, os próprios deputados que aprovaram a lei, 19 dos 24 parlamentares, acabaram votando pelo veto no início de 2018.
Mas o fato não desanimou sequer a Princesa Christina de Ligne. Quando questionada sobre a descrença dos não apoiadores do regime monárquico, ela respondeu: “Apoiar a monarquia brasileira não é voltar para trás, mas andar para frente”.
Porém, no fim do dia, a realeza andou para trás. A princesa e o esposo, que almeja um dia se tornar rei, retrocederam os mais de quatro mil quilômetros que separam Porto Velho e Rio de Janeiro para continuar alimentando um sonho real.