Um dos pacientes contaminados com bactéria rara recebe alta hospitalar em Cacoal

Após quase dois meses de internação, um dos cinco pacientes contaminados pela bactéria Clostridium botulinum, causadora da doença chamada "botulismo", recebeu alta do Hospital Regional de Cacoal (RO), município a 480 quilômetros de Porto Velho. Agora, a mulher se recupera em casa.

Os outros quatro pacientes também tiveram melhoras. Dois homens receberam alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seguem internados na enfermaria na mesma unidade hospitalar.

Já outras duas mulheres ainda estão internadas na UTI, mas apresentaram evolução positiva no quatro clínico. Os exames realizados nos pacientes já chegaram e o resultado deu positivo para botulismo.

De acordo com a médica infectologista Lorena Tavares, a paciente que recebeu alta não está totalmente recuperada, pois ainda tem algumas musculaturas do corpo que precisam de fortalecimento. Mas ela já consegue ter uma vida normal.

"Ela já consegue andar, falar, comer. Apesar de estar em casa, agora terá que fazer fisioterapia a fim de melhorar as partes paralisadas. Ela também precisa retornar ao hospital para acompanhamento do quadro. A recuperação total pode levar até anos", disse.

Os dois homens estão internados em quartos da enfermaria, apresentando grande melhora. "Um deles está respirando sem a ajuda de aparelho, falando com o buraquinho da canola, mas ainda não consegue comer. A musculatura interna do pescoço, que ajuda na deglutição ainda não está respondendo", explicou a médica.

O outro paciente está com um pouco mais de comprometimento motor. Porém segue instável, bem fisicamente e com boa recuperação. "É só um pouco mais de tempo para que ele saia do ventilador totalmente e consiga respirar sozinho", garantiu Lorena.

As duas mulheres seguem internadas na UTI. A médica destacou que uma delas, de 22 anos, estava extremamente grave. No entanto, nos últimos dias teve melhora no quadro.

"Estamos começando a retirar medicações e dispositivos. Ela não conseguia comer nem mesmo com sonda, pois o intestino havia paralisado. Mas, nesse momento, já começamos uma dieta, está lúcida e com alguns movimentos, como abertura ocular. Então está bem melhor", destacou.


A outra paciente também está na UTI, mas segue instável. "Ontem [terça-feira] a equipe conseguiu colocá-la em ventilação espontânea, ou seja, ela ainda precisa do ventilador. Mas de uma forma que ela participa. Então estamos evoluindo. Ainda há certos riscos, mas observamos boa evolução", afirmou Lorena.

Apesar da melhora nos quadros clínicos dos homens, a equipe médica ainda não tem uma previsão de quando os dois receberão alta.


O exame realizado nos pacientes pelo Laboratório Central de Porto Velho já foi entregue e o deu positivo para botulismo. Já os testes realizados nos alimentos ainda não ficaram prontos.

Entenda o caso
Durante um almoço de domingo, oito pessoas de uma mesma família foram contaminadas pela bactéria Clostridium botulinum, causadora de uma doença denominada botulismo. A bactéria foi contraída depois de comerem uma maionese preparada com milho em conserva.

Cinco pacientes foram internados na UTI do Hospital Regional de Cacoal. Os outros três, sendo um adulto e duas crianças, permanecem em São Miguel do Guaporé, onde moram, já que não precisaram de internação.

O setor de vigilância em saúde de Cacoal alerta que não foi confirmado surto de botulismo em Rondônia, mas sim em uma localidade restrita. A coordenadora de vigilância em saúde de Cacoal, Ivani Gromann, detalhou que botulismo é uma doença bacteriana rara e não contagiosa, mas é grave e pode ser fatal.

A bactéria rara pode entrar no organismo por meio de machucados ou pela ingestão de alimentos enlatados – preservados de forma inadequada.

"Horas após a pessoa ingerir o alimento contaminado, já começa a apresentar visão dupla e, em seguida, uma paralisia progressiva, que atinge boca, olhos e os principais órgãos. Se não tratada, pode levar ao óbito", explicou Gromann.

E foram esses os sintomas que os membros da família apresentaram logo após o almoço. Eles foram transferidos para Cacoal na madrugada da última segunda-feira (11), onde foram medicados com o soro antibotulínico, que foi enviado ao município por meio de transporte aéreo de Brasília (DF) e Porto Velho.

Ivani explicou que a maioria das bactérias do botulismo está presente principalmente nos alimentos enlatados. Entretanto, não é possível confirmar ainda de qual alimento partiu a bactéria. A suspeita é de milho em conserva.

"Na terça-feira (12), enviamos para o Lacen amostras de sangue de todos os oito pacientes para confirmar o surto, pois hoje temos apenas a suspeita. Achamos que pode ter sido milho em conserva, pois foi o único alimento enlatado utilizado pela família para o preparo da maionese que todos comeram no almoço. No entanto, a vigilância de São Miguel enviou para a capital amostras de todos os alimentos que estavam na geladeira da casa onde o almoço foi preparado", detalhou a coordenadora.

Sintomas do botulismo
Nesse tipo de botulismo alimentar, de acordo com a Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa), neurotoxinas atacam os nervos das pessoas, fazendo cair a musculatura da língua, da pálpebra e do céu da boca. Quando elas entram na corrente sanguínea, primeiramente se alojam em nervos cranianos.



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