O filme Divertida Mente 2, sucesso de bilheteria entre o público adulto e infantil, coloca as emoções no centro dos holofotes, dando vida àqueles sentimentos que, muitas vezes, fingimos não existir – ou nem conseguimos identificar que estão ali.
Como seres humanos, temos inúmeras capacidades emocionais, que podem nos auxiliar ou nos atrapalhar, dependendo da forma com que lidamos com o que sentimos.
Nas primeiras cenas – alerta de spoiler -, vemos a personagem Alegria escolhendo quais memórias seriam apropriadas para serem relembradas, dizendo: “mantemos o melhor e nos livramos do resto”. A seguir, envia-as para o fundo da mente, onde se forma uma pilha desordenada de memórias e experiências “ruins”.
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Aquelas consideradas boas são levadas para outro espaço – e, juntas, formam o senso de si mesma de Riley, a adolescente que é a personagem principal da animação.
Em nossa mente, dispomos de várias ferramentas para evitar o sofrimento psíquico, chamadas de mecanismos de defesa do ego – todos inconscientes.
Um deles, existente desde que somos pequenos, chama-se repressão. Por meio dela, “fazemos de conta” que esquecemos experiências traumáticas e seguimos nossa vida como se nada tivesse acontecido.
Esse mecanismo, porém, vai acumulando descartes e criando uma pilha de experiências e sentimentos da qual não temos consciência. Esse acúmulo exige um desgaste emocional para ser mantido, e força um tipo de funcionamento psíquico no qual a pessoa não vive de maneira integrada. Só que ela não percebe isso, pois tem a impressão de que não está sofrendo.
Só que, como em qualquer saldo devedor, em algum momento, a dívida é cobrada. É o que acontece quando a Riley tem uma crise de ansiedade e é invadida por uma avalanche de memórias e vivências não trabalhadas. Nesse momento, a repressão deixa de ser um mecanismo útil e um novo ensinamento é apresentado: o sofrimento faz parte do crescimento e do amadurecimento.
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À medida em que conseguimos integrar nossos sentimentos nas diferentes etapas e experiências de vida, desenvolvemos um senso de nós mesmos mais integrado e completo.
Essa verdade é o que vemos no final, quando a percepção de si mesma da Riley se transforma – enriquecida por noções antes reprimidas – mostrando que o que vivemos sempre desencadeia múltiplos sentimentos. Uma noção integrada de si mesmo dá a possibilidade de uma vida adulta mais satisfatória e feliz.
- Lorena Caleffi é psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento